O conceito de dignidade do Estado é como todos os outros conceitos subjectivos. Varia com os tempos e com as circunstâncias e com a mentalidade de cada um. Coisas absolutamente impensáveis numa época passam a ser modais em outra. Deparei-me com esta imagem há dias atrás. Impressionou-me por ser, na minha medida, uma triste condescendência à indignidade do dito Estado e da sua autoridade.
Não adianta o argumento de que há muitas coisas com que nos preocuparmos. Esta parece tão simples de resolver e cuidar. Ainda assim não me abstenho de a divulgar. Talvez o faça com a mesma inconsciência que a tornou possível. por MCV às 10:29 de 22 setembro 2007
Coruche, 1995
Esta foto já foi aqui publicada e é provável que volte a sê-lo um dia que eu consiga uma cópia decente e não uma fotografia digital de uma prova de contacto 24x36 como é esta. por MCV às 05:43 de 21 setembro 2007
A sentinela
A primeira coisa que vi, que vimos, quando o carro dobrou a esquina foi a posição de à-vontade da sentinela. Destacava-se na linha do edificado do espaço-canal, para usar uns termos dos livros. Havia uma certa convexidade na pose que lhe acentuava interesse. Demorámo-nos a inspeccionar o fim da rua. Vimos o que restou da indústria pesada, entrámos no café onde dormitava o dono e onde os poucos clientes aproveitaram a nossa presença para pedirem mais cerveja sem se responsabilizarem pelo sobressalto do justo. Demorámo-nos a ver mais coisas. O J.J. dizia que nunca tinha andado por aquela Lisboa. Foi assim que, já esquecidos das formas que víramos ao virar, nos encaminhámos para a estação.
O soldado de guarda era um soldado da Guarda. Era cabrito e bonito, o soldado. Quando passei por ele, soldado, dei pela primeira vez na vida as boas tardes a uma sentinela. O soldado bonito fez um sorriso desarmante, deu um passo à frente, bateu os tacões, fez continência e retribuiu-me o voto. Após uma ligeira vénia, continuei rua abaixo. O J.J. tinha ficado para trás, apreciando qualquer coisa. Esperei que se reunisse a mim e censurei-o – então não deste as boas tardes à senhora? Eu?! Ela tinha cara de poucos amigos! Talvez, meu caro. E talvez eu seja um desses poucos. E prosseguimos, já com a mira na estação de caminho-de-ferro. por MCV às 00:15
Bizarrias
Fui lá fora. Em certos pontos da rua, cheira a lagar de azeite. Não percebo nada disso. Disto. De lagares de azeite. por MCV às 23:59 de 20 setembro 2007
Isto não é publicidade
É antes uma amostra das minhas incapacidades. Eu sei o que é o sudoku. Não faço ideia há quantos anos as pessoas se entretêm com tal coisa, mas sei que jogos – diria passatempos – semelhantes são coisa velha e relha. Eu próprio não sendo um aficionado deste tipo de coisas, gostava particularmente de resolver alguns do género. Surpreendi-me foi com o ar de novidade que a coisa teve aqui há poucos anos. Como se fosse caso de me surpreender com a surpresa dos outros face à sua própria ignorância. Mas chega. A incapacidade aqui é minha. Eu explico: Há uns dias atrás, folheando alheado um suplemento do Expresso, pensei ter visto uma espécie de sudoku numa das páginas. Mas por achar que tinha qualquer coisa de estranho, vi com mais atenção. Era a figura que postei ontem aqui. E postei-a tal e qual com o rótulo de passatempo, na esperança de ver se o mesmo tipo de engano sucedia a algum dos meus leitores. Cometi aqui mais dois erros. O primeiro, dispenso-me de o mencionar, por ser óbvio. O segundo foi não ter percebido que esse tipo de ilusão é fácil de acontecer quando se manuseia distantemente um jornal mas pouco provável face a um écran de computador. Dito isto, anuncio aqui a perspicácia do João Espinho que acertou em cheio e a ironia iluminada do Bic Laranja que acertou no conceito subjacente, em cenário alternativo. Trata-se da planta da Interpescas, que decorrerá de hoje até domingo, em Aveiro. E isto não é publicidade.
Encontrei no dito suplemento para além desta imagem, um fio de meada. Para outras memórias. por MCV às 23:31
A Terra não é esférica (III)
Legenda: B - Sol A - Luz solar C e C' - Zonas de penumbra T - Terra
BENEDY, H.; “A Terra não é esférica...”, Lisboa, 1952, fig. 17, p. 89 por MCV às 21:05 de 19 setembro 2007
Passatempo
( o esquema não é da minha autoria - solução na próxima semana se houver interessados ) por MCV às 02:04
Os papagaios repetem-se uns aos outros, naturalmente. Mas em que medida em que é importante a data da entrada em vigor quando uma Lei foi mal parida ou mal alterada? Além de se adiarem as dores de cabeça, há mais alguma razão? Ouço dizer que são precisos cerca de seis meses para se discutirem e perceberem as consequências... por MCV às 21:18 de 17 setembro 2007
O acordar da desgraça
Se há casos em que é impossível determinar uma causa para um movimento, uma acção, hoje aconteceu isso quando chegámos à porta do homem. Por que raio o meu velho J. d’. se teria lembrado de fazer uma visita àquela figura? Nada do que se seguiu mostrou fazer luz sobre a coisa. A um ou dois gritos fora de portas com o nome do sitiado embebido, seguiu-se o seu aparecimento apaziguador da mais do que fingida ferocidade dos cães de guarda. Trazia no rosto as marcas do suor de sesta, condicentes com o odor a mofo de casas clandestinas que se pressentia nas manchas da parede. Cumprimentou-nos por detrás das grades do portão, enfiando o braço. Só depois de se aperceber que o meu amigo estava para conversa, acedeu a sair. Ali na rua mostrou o caso. Das dificuldades em resolver a legalização de casas, ter arruamentos decentes, iluminação pública. Uma das feras aproximou-se de mim, já a jeito de mimo. O abanar vertiginoso da cauda assim que lhe toquei no cachaço desmontou a ideia de fortaleza que as grades ainda transmitiam. O homem continuava a preencher os vazios de quatro ou cinco anos sem falar ao J. d’. Desgraças e venturas e pombos-correio. Suava das desgraças passadas como quem acorda da sesta. O mofo era agora de recantos sombrios. E sem causa aparente, despedimo-nos dele. Esta tarde.
É para poder escrever estas coisas que não revelo este blogue aos conhecidos. por MCV às 02:06
As alterações no Processo Penal
Não li. Não sei. Não conheço. Ocorre-me apenas o célebre teorema do macaco dactilógrafo sempre que ouço falar em novas leis, alterações das anteriores, etc. Há uma probabilidade... por MCV às 21:36 de 16 setembro 2007
Sr. Luís, venha cá já!
Não sei quantos Srs. Luíses há por essas empresas e por essas repartições do Estado. Mas creio que muitos, tão velha é a fama e o proveito de tais figuras. O que eu conheci chegou a levar sonoros estalos à minha frente. Numa autêntica violação dos mais elementares direitos do trabalhador, do Homem. Quantas vezes não o recriminei eu próprio, em voz alta, por erros e omissões. O certo é que só muito raramente não era ele o responsável pelas asneiras que por lá aconteciam, não admirando assim que tão enxovalhado fosse. Nunca se conseguiu reciclar o Sr. Luís, essa é que é essa. Sempre foi impermeável a novos ensinamentos, impermeabilidade essa que justificava a mísera retribuição que recebia. Era um simples que tudo acatava com a devida vénia, sem se desculpar. Por lá ficou até hoje, mesmo sendo tantas vezes referido como a pedra na engrenagem, tantas vezes chamado rispida e explicitamente à pedra a meio de uma conversa telefónica com algum cliente ou fornecedor reclamante. O Sr. Luís, como calculam, nunca existiu. por MCV às 03:59